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domingo, 11 de janeiro de 2009

Alberto Oliveira Pinto

 alberto oliveira pinto

ALBERTO MANUEL DUARTE DE OLIVEIRA PINTO nasceu em Luanda (Angola) a 8 de Janeiro de 1962. Licenciou-se em Direito em Lisboa, pela Universidade Católica Portuguesa, em 1986. Depois de uma curta passagem pela advocacia trabalhou em várias escolas de Lisboa entre os anos de 1992 e 1998 enquanto animador cultural de Literatura, no âmbito do "Programa de Sensibilização à Criatividade e à Leitura" do Departamento de Educação e Juventude da CML. Passou também por experiências de guionismo de televisão e foi professor em cursos livres de criatividade literária. Tem colaboração dispersa em diversas revistas e jornais angolanos e portugueses e está representado em várias antologias. Prepara tese de Mestrado em História de África na Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa, cujo tema é O Confronto da Literatura e da Historiografia Coloniais com a História Oral de Cabinda, com a orientação da Prof.ª Doutora Isabel Castro Henriques e do Prof. Doutor Alfredo Margarido.  Foi distinguido com diversos prémios literários, de que se destacam o "Prémio Revelação" APE, em 1990, com o romance O Senhor de Mompenedo, e o Prémio "Sagrada Esperança" - ao tempo o mais importante prémio literário angolano - com o romance Mazanga em 1998. É membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e da União dos Escritores Angolanos (UEA). É um dos fundadores e dinamizadores do Centro de Estudos Multiculturais, onde, para além das suas aulas, tem orientado pesquisas sobre temática africana.

livros alberto o pinto 1

Obras

Romances
  • 1990 - Eu à Sombra da Figueira da Índia
  • 1991 - Concerto na Nespereira
  • 1991 - O Saco dos Livros
  • 1992 - O Senhor de Mompenedo
  • 1994 - O Onagro de Sintra
  • 1995 - A Sorte e a Desdita de José Policarpo
  • 1998 - Mazanga
  • 2001 - Travessa do Rosário
Livros juvenis
  • 1991 - A Família dos Paladinos
  • 1991 - A Canção de Rolando
  • 1996 - As Filhas do Olho de Vidro

 

O "REINO" DO MARQUÊS

Este é um romance histórico, que retoma a tradição da reconstituição de um passado nas suas vertentes política, social e a individual. Neste caso, do século XVIII português, mais precisamente da época pombalina. O episódio romanceado é o atentado a D. José. A versão oficial é a de que um grupo de sicários a soldo do duque de Aveiro e dos marqueses de Távora tentou m atar o rei à saída de Lisboa na noite de 3 de Setembro de 1758. O romance retoma o episódio integralmente, como núcleo principal. A personagem principal, José Policarpo de Azevedo, é um dos conspiradores. A escolha ficcional deste conspirador, mais de dois séculos depois, deve-se ao facto do seu percurso constituir uma excepção. Ligado ao marquês de Pombal desde o dia do terramoto de 1755, José Policarpo envolve-se nos acontecimentos do atentado ao rei mas, protegido pelo marquês, é perseguido apenas na aparência, e a sua captura é evitada. Pombal forja uma identidade falsa e José Policarpo parte para o Marão como padre jesuíta, Francisco de Léon, uma identificação que corresponde a um padre dado como morto mas mantido como prisioneiro em segredo. Entretanto, os outros conspiradores vão sendo eliminados.

O modo como o material romanesco surge apresentado é problemático. O romance é escrito em cenas narrativas separadas umas das outras pela menção do local e da data, mas sem uma sequência cronológica, sendo que entre uma e a seguinte se verifica, por vezes, um desfasamento de mais de quinze anos. Ao mesmo tempo, o narrador avança com várias intrigas: os amores de Joana do Pinto, a vida do par Marta Maria e Domingos Famalicão, a velhice do marquês de Angeja, etc. A primeira metade do livro é composta por essas várias intrigas que se desenvolvem de um modo entrecortado, porque todo o romance é feito por cenas sem relação directa entre si, e a paciência do leitor pode não ser tanta quanto o exige a fragmentação do relato das intrigas. Resumindo: é um romance com qualidades que se lê com dificuldade. O leitor tem que recompor partes demasiado dispersas num todo de difícil apreensão.

Convirá, ainda, saber o que o romance ganha com esta organização problemática, que poderia corresponder à necessidade de uma outra interpretação dos acontecimentos narrados ou da época representada; não é o caso. A dispersão cronológica não acrescenta nada, e a narrativa fica à superfície dos factos históricos representados, não demonstrando um trabalho de aprofundamento dos discursos da época quer em sentido literal quer em sentido mais extenso. Ou seja: os discursos das personagens e do narrador não se diferenciam daquilo que um pessoa medianamente culta supõe que eram os discursos da época. Mas uma pesquisa de documentos desse tempo, aupõe-se também, revelaria outros discursos. Além disso, uma época tem o seu próprio modo de pensar a realidade, modo esse que se traduz nos textos escritos (à falta do vivido do tempo). É essa "diferença" estabelecida pela própria textura da época que pode tornar um romance histórico pertinente nos dias de hoje.

Alberto Oliveira Pinto não é um principiante: tem cinco romances publicados (desde 1990) e uma intensa actividade de uma escrita considerada como animação cultural. A quantidade encontra-se assegurada. Talvez seja tempo de repensar a noção de que um romance cria um universo próprio. Aqui, a época representada é frequentemente indiferenciada por lugares-comuns que não foram postos em causa. A não ser que o intuito do autor fosse apenas o de lembrar ao leitor que em tempos houve uma figura polémica, a do marquês de Pombal, que "reinou" em Portugal até 1776. Como propósito de autor de romance, é pouco ambicioso.

Eunice Cabral, em Público, 20/01/1996

Fontes: multiculturas.com

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