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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Afonso Botelho

 

Escritor português, nasceu no ano de 1919, em Bencanta, Coimbra, e faleceu em 1996. Foi aluno de Leonardo Coimbra no liceu, já depois de encerrada a Faculdade de Letras do Porto, na qual este último foi director e professor. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa em 1950, depois de ter frequentado as Faculdades de Direito de Coimbra e Lisboa. A sua obra abrange o ensaio filosófico e a ficção, havendo ao presente três obras inéditas neste último género: As Donas Chamam (novela), A Morte em Férias (contos) e Família Imaginária (contos).

Afonso Botelho pertenceu à escola de filosofia portuguesa que foi o movimento da "Renascença Portuguesa", onde participaram, entre muitos outros, Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, seguidos, de algum modo, por Álvaro Ribeiro e José Marinho - estes últimos foram os mestres de Afonso Botelho.

Foi com base na doutrina de D. Duarte (sobre o qual realizou a sua dissertação para conclusão de licenciatura) e na de Teixeira de Pascoaes que se lançou no estudo do tema que mais o viria a interessar: a saudade.

Para Afonso Botelho a saudade é um sentimento que se caracteriza essencialmente como ausência e que culmina na sua forma mais radical: a morte. Para que a saudade não se confunda com uma simples ligação ao passado, Afonso Botelho esclareceu que o que a caracteriza essencialmente é a sua relação com o tempo, pois permite a sua anulação, implicando a reintegração deste na origem, na eternidade. Deste modo é anulada a partição do tempo em passado e futuro, através da faculdade eminentemente operativa que é a saudade. O homem é entendido como um ser que se sente e sabe separado da origem - Deus - e que, através desse mesmo sentimento, retorna, ou pode retornar, ao paraíso perdido.

A saudade é definida como sentimento, na medida em que o pensamento se situa não só na razão mas também no coração e é precisamente este sentimento que permite aos seres transcender os limites do tempo cronológico.

O primeiro movimento da saudade, nesta caminhada do tempo para o eterno, é o desejo, ao qual a lembrança, enquanto memória da origem ou primeira imagem , orienta para a sua completa reintegração em Deus. A saudade é, assim, entendida como forma dialéctica da relação do mesmo para o outro, do homem para Deus, que é, simultaneamente, movimento de Deus para o homem.

Afonso Botelho desenvolveu três teorias na sequência da sua reflexão sobre a saudade: a teoria do tempo, do amor e da morte.

Na sua teoria do tempo aprofundou essencialmente a noção de que a saudade permite a reintegração do tempo na eternidade de Deus, deixando de haver a distinção entre passado e futuro, já que, na sua relação com o eterno, eles se equivalem. Na teoria do amor desenvolveu a noção de mónada amorosa e a ideia de que "cada um dos amantes procura a essência do outro como mesmo" (A. Braz Teixeira, in Logos, Botelho, Afonso ). Finalmente, na teoria da morte tratou a ideia de que a morte é a forma mais radical que a saudade assume, revelando o sentimento da ausência e, desse modo, extremando no ser a possibilidade ou, mais propriamente, a necessidade da sua reintegração no eterno. Deste modo, a morte surge aqui como princípio radical do conhecimento, pois surge como mistério.

Como referenciar este artigo: Afonso Botelho. In Infopédia 

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