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sábado, 24 de janeiro de 2009

Alexandre Herculano

 Alexandre Herculano

Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, a 28 de Março de 1810, no seio de uma família da classe média. O pai, Teodoro Cândido de Araújo, era recebedor da Junta dos Juros. A mãe chamava-se Maria do Carmo de S. Boaventura.

Entre 1820 e 1825 frequentou o colégio dos Oratorianos, mas não chegou a entrar na Universidade, porque em 1827 o pai cegou e teve que abandonar o lugar que ocupava. Pela mesma altura, o avô materno, mestre de obras a trabalhar no palácio da Ajuda, deixou de receber as importâncias de que era credor e não lhe pôde dispensar o apoio necessário.

Fechada essa porta, matriculou-se na Aula de Comércio, em 1830, e frequentou um Curso de Diplomática (estudos de paleografia). Particularmente, estudou também francês, inglês e alemão. Embora o seu conhecimento destas duas últimas línguas não fosse profundo, serviu-lhe pelo menos para avivar a sua receptividade à literatura coeva desses países, o que não era muito frequente em Portugal. Foi nesta altura que começou a familiarizar-se com a literatura romântica da Europa, por influência da Marquesa de Alorna, cujos serões literários frequentou.

Herculano perfilhou sempre uma ideologia conservadora, mas não parece haver razões para seguir a opinião expressa por Teófilo Braga, que afirma ter sido na juventude um miguelista convicto. A verdade é que, em Agosto de 1831, aparece-nos comprometido com uma malograda revolta militar de cariz liberal que o obrigou a procurar refúgio num navio francês, surto no Tejo. Daí saiu para o exílio em Inglaterra e França: primeiro Plymouth, depois Jersey, a seguir Saint Malo e finalmente Rennes. No fundo um percurso semelhante ao de Garrett e outros activistas liberais. Foi exactamente em Rennes que Herculano teve oportunidade de frequentar a biblioteca pública da cidade. Pôde então familiarizar-se melhor com as obras de Thierry, Vítor Hugo e Lamennais.

Tal como Almeida Garrett e outros jovens exilados alistou-se no exército liberal que, no início de 1832, se dirigiu aos Açores e depois ao Porto. Participou no cerco da cidade e destacou-se em várias missões de reconhecimento na região minhota.

Nesta cidade, foi nomeado em 22 de Fevereiro de 1833 para coadjuvar o director da Biblioteca Pública, organizada a partir do acervo da livraria do bispo. Exerceu o cargo até Setembro de 1836, quando pediu a exoneração, por discordar do juramento de fidelidade à Constituição de 1822, que lhe era exigido. Na carta de demissão declara-se fiel à Carta Constitucional. Coerente com as suas convicções políticas, opõe-se ao Setembrismo, que daqui em diante irá combater. Voltou a Lisboa para, através do jornalismo, combater os adversários políticos. É então que publica A Voz do Profeta (1836).

Torna-se redactor principal de O Panorama , editado pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, que era então o principal instrumento de divulgação da estética romântica, em Portugal. Foi aí que publicou vários dos seus estudos de natureza histórica e muitas das suas obras literárias, mais tarde editadas em livro: A Abóbada , Mestre Gil , O Pároco de Aldeia , O Bobo e O Monge de Cister .

Ainda nesse ano de 1837 assumiu a responsabilidade da redacção do Diário do Governo , que nesse tempo era apenas um jornal de suporte ao partido no poder. No entanto, pouco tempo depois abandonou o lugar. No ano seguinte publicou A Harpa do Crente .

Em 1839 foi nomeado, por iniciativa do rei D. Fernando, para dirigir a Real Biblioteca da Ajuda e das Necessidades, tendo conservado esse cargo quase até ao fim da vida.

Em 1840 chegou a passar pelo Parlamento, eleito pelo círculo do Porto, como deputado do Partido Cartista (conservador), mas o seu temperamento adequava-se mal à actividade política. As manobras partidárias enojavam-no e sentia dificuldade em falar em público.

A pouco e pouco foi-se afastando da actividade política e dedicando o seu tempo à literatura. Os anos seguintes são de grande produtividade literária. São desta época os seus romances de ambiente histórico. É também na década de 40 que inicia a publicação da sua História de Portugal , seguramente a primeira escrita com preocupação de rigor científico. Aliás, o primeiro volume suscitou de imediato violenta reacção por parte de alguns sectores do clero, por excluir, naturalmente, qualquer intervenção sobrenatural na batalha de Ourique. A polémica sobre esta questão ficou famosa. Note-se que Herculano era católico e politicamente conservador, mas opunha-se à interferência da igreja na vida política nacional. Esse confronto com sectores clericais está também na origem dos seus estudos sobre a Inquisição em Portugal.

Em 1851, voltou por algum tempo à política activa, com o triunfo da Regeneração, chegando a colaborar com o governo, embora por pouco tempo. Mais prolongada foi a sua intervenção cívica através da imprensa. Em 1851 fundou o jornal O País e dois anos depois O Português .

Sócio correspondente da Academia Real das Ciências desde 1844, em 1852 foi admitido como sócio efectivo e eleito vice-presidente em 1855. Em 1853, por encargo da Academia, percorreu o país, inventariando os documentos existentes nos arquivos episcopais e nos mosteiros, preparando aquilo que viria a constituir os Portugaliae Monumenta Historica . Pôde então verificar o estado de abandono a que estava votado a maior parte do acervo documental espalhado pelo país.

Em Março de 1856 Herculano renunciou ao seu lugar na Academia e decidiu abandonar os estudos de natureza histórica. Na origem dessa decisão parece estar o facto de ter sido nomeado guarda-mor da Torre do Tombo Joaquim José da Costa Macedo, com quem ele teria tido desinteligências sérias. Essa pausa foi interrompida no ano seguinte, por entretanto se ter aposentado o referido indivíduo. Pôde assim continuar o trabalho de organização e publicação dos Portugaliae Monumenta Historica .

Herculano participou nos trabalhos de redacção do Código Civil, tendo nessa altura defendido o casamento civil a par do religioso. A proposta era inovadora e suscitou forte reacção. Dessa polémica surgiram os Estudos sobre o Casamento Civil .

Juntamente com Almeida Garrett , é considerado o introdutor do romantismo em Portugal. Os seus primeiros contactos com a literatura ocorreram em ambiente pré-romântico, nos salões da Marquesa de Alorna, onde entrou por mão de António Feliciano de Castilho . Embora Garrett , onze anos mais velho, se tenha adiantado com a publicação no exílio de Camões e D. Branca , consideradas as primeiras obras inequivocamente românticas, podemos considerar Herculano como o teorizador da nova corrente literária, ao nível interno, pelos artigos que publicou no Repositório Literário do Porto. Por outro lado foi ele que introduziu no nosso país o romance histórico, tão característico do romantismo. A inspiração directa veio-lhe naturalmente de Walter Scott e Victor Hugo.

Os seus méritos de cidadão, escritor e estudioso eram reconhecidos quase unanimemente e foram muitas as honrarias que lhe foram oferecidas. Aceitou algumas de natureza científica, mas as distinções honoríficas recusou-as sempre. Recusou mesmo a sua nobilitação, ao contrário de Garrett e Camilo , que, como sabemos, morreram viscondes.

Em 1866 casou e, pouco depois, retirou-se para a sua quinta de Vale de Lobos, próximo de Santarém. Aí permaneceu até ao fim da vida, ocupado com os seus escritos literários e as lides agrícolas. Foi aí que morreu, a 13 de Setembro de 1877.

Alexandre Herculano - obras

Bibliografia :

A Voz do Profeta (poesia) - 1836

A Harpa do Crente (poesia) - 1838

O Fronteiro de África (teatro) - 1838

Os Infantes em Ceuta (teatro) - 1842

O Bobo (romance histórico) - 1843

Apontamentos para a História dos Bens da Coroa e Forais - 1843/44

Eurico, o Presbítero (romance histórico) - 1844

História de Portugal (4 vols) -1846/1853

O Monge de Cister (romance histórico) - 1848

Poesias - 1850

Lendas e narrativas (novelas) - 1851

História da Origens e Estabelecimento da Inquisição em Portugal - 1854/1859

Estudos sobre o Casamento Civil - 1866

Portugaliae Monumenta Historica - 1856/1873

Opúsculos (10 vols) - 1873...

Obras consultadas:  Breve História da Literatura Portuguesa , Texto Editora, Lisboa, 1999

Mais Informação em:

POEMA:

Ai, que és tu, existência?! Um pesadelo,
Um sonho mau, de que se acorda em trevas,
Na vala dos cadáveres, em meio
Da única herança que pertence ao homem,
Um sudário e o perpétuo esquecimento.
(...)
E da pátria a saudade, em sonho triste,
Imóvel, do viver me tece a noite.


Tristezas do Desterro, excerto

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