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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Agustina Bessa Luís

 

agustina bessa-luis

Biografia

Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante em 1922, descendente de uma família de raízes rurais de Entre Douro e Minho e de uma família espanhola de Zamora, por parte da mãe. A sua infância e adolescência são passadas nesta região, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora. Fixou-se, entretanto, no Porto, onde reside.

Estreou-se como romancista em 1948, com a novela Mundo Fechado, tendo desde então mantido um ritmo de publicação pouco usual nas letras portuguesas, contando até ao momento com mais de meia centena de obras. 

Tem representado as letras portuguesas em numerosos colóquios e encontros internacionais e realizado conferências em universidades um pouco por todo o mundo. 

Foi membro do conselho directivo da Comunitá Europea degli Scrittori (Roma, 1961-1962). 

Entre 1986 e 1987 foi Directora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto). Entre 1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa) e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. 

É membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, tendo já sido distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e o grau de "Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres", atribuído pelo governo francês (1989).

É em 1954, com o romance A Sibila, que Agustina Bessa-Luís se impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa contemporânea. Conjugando influências pós-simbolistas de autores como Raul Brandão na construção de uma linguagem narrativa onde o intuitivo, o simbólico e uma certa sabedoria telúrica e ancestral, transmitida numa escrita de características aforísticas, se conjugam com referências de autores franceses como Proust e Bergson, nomeadamente no que diz respeito à estruturação espácio-temporal da obra, Agustina é senhora de um estilo absolutamente único, paradoxal e enigmático.

Vários dos seus romances foram já adaptados ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, de quem é amiga e com quem tem trabalhado de perto. Estão neste caso Fanny Owen ("Francisca"), Vale Abraão e As Terras do Risco ("O Convento"), para além de "Party", cujos diálogos foram igualmente escritos pela escritora. É também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance As Fúrias sido adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria (Teatro Nacional D. Maria II, 1995).

Recebe aos 81 anos o mais importante prémio literário da língua portuguesa: o Prémio Camões, em 2004.

 

Fonte: mulheres-ps20

obra agustina bessa-luis
Obras publicadas

Ficção
  • 1948 - Mundo Fechado (novela)
  • 1950 - Os Super-Homens (romance)
  • 1951-1953 - Contos Impopulares (romance)
  • 1954 - A Sibila (romance)
  • 1956 - Os Incuráveis (romance)
  • 1957 - A Muralha (romance)
  • 1958 - O Susto (romance)
  • 1960 - Ternos Guerreiros (romance)
  • 1961 - O Manto (romance)
  • 1962 - O Sermão do Fogo (romance)
  • 1964 - As Relações Humanas: I - Os Quatro Rios (romance)
  • 1965 - As Relações Humanas: II - A Dança das Espadas (romance)
  • 1966 - As Relações Humanas: III - Canção Diante de uma Porta Fechada (romance)
  • 1967 - A Bíblia dos Pobres: I - Homens e Mulheres (romance)
  • 1970 - A Bíblia dos Pobres: II - As Categorias (romance)
  • 1971 - A Brusca (contos)
  • 1975 - As Pessoas Felizes (romance)
  • 1976 - Crónica do Cruzado Osb (romance)
  • 1977 - As Fúrias (romance)
  • 1979 - Fanny Owen (romance histórico)
  • 1980 - O Mosteiro (romance)
  • 1983 - Os Meninos de Ouro (romance)
  • 1983 - Adivinhas de Pedro e Inês (romance histórico)
  • 1984 - Um Bicho da Terra (romance histórico, biografia de Uriel da Costa)
  • 1984 - Um Presépio Aberto (narrativa)
  • 1985 - A Monja de Lisboa (romance histórico, biografia de Maria de Visitação)
  • 1987 - A Corte do Norte (romance histórico)
  • 1988 - Prazer e Glória (romance)
  • 1988 - A Torre (conto)
  • 1989 - Eugénia e Silvina (romance)
  • 1991 - Vale Abraão (romance)
  • 1992 - Ordens Menores (romance)
  • 1994 - As Terras do Risco (romance)
  • 1994 - O Concerto dos Flamengos (romance)
  • 1995 - Aquário e Sagitário (narrativa)
  • 1996 - Memórias Laurentinas (romance)
  • 1997 - Um Cão que Sonha (romance)
  • 1998 - O Comum dos Mortais (romance)
  • 1999 - A Quinta Essência (romance)
  • 1999 - Dominga (conto)
  • 2000 - Contemplação Carinhosa da Angústia (antologia)
  • 2001 - O Princípio da Incerteza: I – Jóia de Família (romance)
  • 2002 - O Princípio da Incerteza: II – A Alma dos Ricos (romance)
  • 2003 - O Princípio da Incerteza: III – Os Espaços em Branco (romance)
  • 2004 - Antes de Degelo (romance)
  • 2005 - Doidos e Amantes (romance)
  • 2006 - A ronda da noite (romance)

Biografias
  • 1979 - Santo António
  • 1979 - A Vida e a Obra de Florbela Espanca (biobibliografia)
  • 1979 - Florbela Espanca
  • 1981 - Sebastião José
  • 1982 - Longos Dias Têm Cem Anos – Presença de Vieira da Silva
  • 1986 - Martha Telles: o Castelo Onde Irás e Não Voltarás (ensaio e biografia)

Teatro
  • 1958 - Inseparável ou o Amigo por Testamento
  • 1986 - A Bela Portuguesa
  • 1992 - Estados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard
  • 1996 - Party: Garden-Party dos Açores – Diálogos
  • 1998 - Garret: O Eremita do Chiado

Crónicas, memórias, textos ensaísticos
  • 1961 - Embaixada a Calígula (relato de viagem)
  • 1979 - Conversações com Dimitri e Outras Fantasias (crónicas)
  • 1980 - Arnaldo Gama – “Gente de Bem”
  • 1981 - A Mãe de um Rio (texto e fotografia)
  • 1981 - Dostoievski e a Peste Emocional
  • 1981 - Camilo e as Circunstâncias
  • 1982 - Antonio Cruz, o Pintor e a Cidade
  • 1982 - D.Sebastião: o Pícaro e o Heroíco
  • 1982 - O Artista e o Pensador como Minoria Social
  • 1984 - ”Menina e Moça” e a Teoria do Inacabado
  • 1986 - Apocalipse de Albrecht Dürer
  • 1987 - Introdução à Leitura de “A Sibila”
  • 1988 - Aforismos
  • 1991 - Breviário do Brasil (diário de viagem)
  • 1994 - Camilo: Génio e Figura
  • 1995 - Um Outro Olhar sobre Portugal (relato de viagem), com fot. de Pierre Rossollin, e il. de Maluda
  • 1996 - Alegria do Mundo I: escritos dos anos de 1965 a 1969
  • 1997 - Douro (texto e fotografia), em colab. com Mónica Baldaque
  • 1998 - Alegria do Mundo II: escritos dos anos de 1970 a 1974
  • 1998 - Os Dezassete Brasões (texto e fotografia)
  • 1999 - A Bela Adormecida
  • 2000 - O Presépio: Escultura de Graça Costa Cabral (texto e fotografia), em colab. com Pedro Vaz
  • 2001 - As Meninas (texto e pintura)
  • 2002 - O Livro de Agustina (autobiografia)
  • 2002 - Azul (divulgação), em colab. com Luísa Ferreira
  • 2002 - As Estações da Vida (texto e fotografia), fot. Jorge Correia Santos
  • 2004 - O Soldado Romano, com il. de Chico

Literatura infantil
  • 1983 - A Memória do Giz, com il. de Teresa Dias Coelho
  • 1987 - Contos Amarantinos, com il. de Manuela Bacelar
  • 1987 - Dentes de Rato, com il. de Martim Lapa
  • 1990 - Vento, Areia e Amoras Bravas, com il. de Mónica Baldaque
  • 2007 - O Dourado, com il. de Helena Simas

Adaptações cinematográficas
  • 1981 - Francisca, real. Manoel de Oliveira, romance Fanny Owen
  • 1993 - Vale Abraão, real. Manoel de Oliveira, romance Vale Abraão
  • 1995 - O Convento, real. Manoel de Oliveira, com Catherine Deneuve e John Malkovich, romance As Terras do Risco
  • 1998 - Inquietude, real. Manoel de Oliveira, conto A Mãe de um Rio, Prémio Globo de Ouro (1999) para a melhor realização
  • 2002 - O Princípio da Incerteza, real. Manoel de Oliveira, romance O Princípio da Incerteza
  • 2005 - Espelho Mágico, real. Manoel de Oliveira, romance A Alma dos Ricos

 

CITAÇÃO:

A Doutrina Perfeita

Muitas vezes as pessoas dirigem-se a mim, dizendo: «você, que é independente». Não sou assim; continuamente devo ceder a pequenas fórmulas sofisticadas que corrompem, que dão um sentido inverso à nossa orientação, que fazem com que a transparência do coração se turve. Continuamente a nossa insegurança, o egoísmo, o espírito legalista, a mesquinhez, a vaidade, toda a espécie de circunstâncias que tomam o partido da vida como desfrute à sensação se sobrepõem à luz interior. Só a fé é independente. Só ela está para além do bem e do mal.

Estar para além do bem e do mal aplica-se a Cristo. «Perdoa ao teu inimigo, oferece a outra face» - disse Ele. Não é um conselho para humilhados, não é um preceito para mártires. Nisso aparece Cristo mal interpretado, a ponto de o cristianismo ter sido considerado uma religião de escravos. Mas esquecemos que Cristo, como Homem, teve a experiência-limite, uma visão do inconsciente absoluto, o que quer dizer que a sua consciência foi saturada, para além do bem e do mal. Esse homem que perdoa ao seu inimigo não o faz por contrariedade do seu instinto, por reparação dos seus pecados; mas porque não pode proceder de outra maneira.


A sua natureza simplificou-se; nada o pode abalar, porque ele desesperou para sempre da sua controvérsia e, possivelmente, da sua humanidade. A agonia do Homem é isto - a sua conversão à luz interior. Qualquer doutrina que professe a luta, seja doutrina social ou religiosa, impõe-se facilmente às massas, porque a luta bloqueia a evolução profunda do homem, a qual é motivo da sua angústia. Um sábio, grande figura bíblica, disse: «A causa do temor não é outra coisa senão a renúncia aos auxílios que procedem da reflexão». Ligados todos por uma igual cadeia de trevas, os homens julgam superar os factos por meio duma acção violenta. Dispersam os seus fantasmas prodigiosos durante algum tempo, mas logo são surpreendidos por inesperados terrores. A melhoria das suas condições de trabalho, o direito ao lazer e à cultura, a protecção à saúde e à velhice, tudo isso foi uma necessidade imposta pelos factos, mas só actua como lei se for manifestado pela reflexão. A doutrina perfeita nem ofende a multidão nem se arroja a seus pés. Não é feita de belas palavras nem dum folclore de atitudes. A natureza combate pelos justos. Essa natureza é a fé.


Agustina Bessa-Luís, in 'Contemplação Carinhosa da Angústia'

Mais informação em:

pt.wikipedia

mulheres.ps20

blogs.sapo

instituto camões

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