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sábado, 20 de dezembro de 2008

Luis Vaz de Camões

LUIS DE CAMOES

Vida

Não são muitas as informações sobre a vida de Camões, pois enquanto ele viveu nenhum de seus contemporâneos fez qualquer referência à sua pessoa. Somente depois da morte de Camões é que houve breves referências à sua vida, feitas por escritores que o conheceram. No entanto, seus dados biográficos puderam ser estabelecidos tanto a partir de alguns poucos documentos relativos a ele e à sua família, como a partir das muitas alusões à sua própria vida que se encontram ao longo de toda sua obra.

Infância e Juventude.

O local de nascimento de Camões não foi determinado com certeza absoluta. "Provavelmente nasceu em Lisboa". "A data de seu nascimento também é incerta". "Pode-se apenas dizer que nasceu em torno de 1524". Sua família, apesar de pertencer à nobreza, tinha poucos recursos. Seu pai se chamava Simão Vaz de Camões e sua mãe, Ana de Sá ou de Macedo. Camões deve ter estudado no colégio do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do qual era prior seu tio Dom Bento de Camões, que também era chanceler da Universidade de Coimbra. Dom Bento provavelmente patrocinou e orientou a formação de seu sobrinho. Não há provas de que Camões tenha cursado a universidade, mas os conhecimentos que adquiriu durante esse período de formação, e que ficam evidentes em toda a sua obra, são igualados por raríssimos poetas europeus de sua época. Certamente leu, entre outros, Homero, Horácio, Virgílio, Ovídio e Petrarca. Por volta de 1542, Camões possivelmente mudou-se para Lisboa. Em 1547, viajou para Ceuta, na África. Participou de vários combates e, num deles, perdeu o olho direito. Não se sabe se essa estada em Ceuta foi um degredo motivado por seu caráter turbulento e por amores proibidos, ou se constituiu apenas uma iniciação na carreira das armas, visando também a receber favores reais. Em 1549 ou 1550, regressou a Lisboa.

Maturidade.

Em Lisboa, Camões freqüentou tanto os ambientes da nobreza quanto os meios da baixa boêmia. No dia 16 de junho de 1552, envolveu-se numa briga de rua e feriu a espada Gonçalo Borges, que trabalhava nas cavalariças do rei. Foi então preso nos calabouços do Tronco. Algum tempo depois, foi perdoado por Dom João III, rei de Portugal, numa carta datada de 3 de março de 1553. O motivo do perdão foi o fato de Gonçalo Borges não ter-se ferido gravemente, tendo ele mesmo perdoado a Camões. Dias depois, o poeta partiu para a Índia, a fim de servir o rei em missões militares. Essa viagem não foi uma imposição do rei, condicionando o perdão, mas algo que Camões se dispôs a fazer, visando assim a obter o perdão mais facilmente e, sobretudo, a afastar-se da vida que levava em Lisboa, pois esta não lhe agradava, como ele mesmo revelou em uma carta que enviou da Índia. Entre 1553 e 1555, participou da expedição ao Malabar e talvez da armada enviada ao estreito de Malaca, a fim de combater os piratas que lá atuavam. A seguir foi nomeado provedor dos bens de defuntos e ausentes da China, tendo assim partido em 1556 para Macau. Data desse período a lenda da gruta de Macau, onde Camões se refugiaria para escrever. Teria nessa época escrito uma parte de Os Lusíadas. Em torno de 1560, foi obrigado a voltar a Goa, por motivos não muito claros. O navio em que viajava naufragou no golfo de Tonquim, na foz do rio Mekong, tendo Camões se salvado a nado com o manuscrito de Os Lusíadas, então já em fase avançada de composição. Segundo o que talvez não passe de lenda, nesse naufrágio morreu sua companheira Dinamene. Ficou preso em Goa até 1567, quando partiu de volta para Portugal. No entanto, por razões também obscuras, o capitão do navio em que viajava deixou o poeta nas costas de Moçambique, onde o historiador português Diogo do Couto o encontrou vivendo pobremente, às custas de amigos. O historiador ajudou-o a embarcar para Lisboa, onde chegou em fins de 1569 ou começos de 1570, isto é, aproximadamente 17 anos depois de ter partido para a Índia. Camões trazia os originais de Os Lusíadas, mas já não tinha os originais de seu Parnaso, coletânea de composições líricas furtada em Moçambique e que não foi recuperada. Em 1571, obteve licença da Inquisição para publicar Os Lusíadas, o que ocorreu em 1572. Em 28 de junho do mesmo ano, a Coroa, através de alvará de Dom Sebastião, concedeu ao poeta a pequena tença anual de 15 mil-réis. Camões morreu em um hospital, totalmente na miséria, em 10 de junho de 1580.

Obra

A obra de Camões é composta sobretudo pela poesia épica e pela poesia lírica. A poesia épica é representada por Os Lusíadas e a poesia lírica por vários tipos de poemas, que recebem o título geral de Rimas. A esses dois conjuntos, que constituem o essencial da obra camoniana, acrescentam-se três autos — Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo — e quatro cartas. Os autos não atingem maior nível, nem em relação à sua poesia, nem em relação aos outros autores de peças teatrais da época. As cartas, por sua vez, têm validade como documentos autobiográficos. Além de Os Lusíadas, somente três pequenos poemas líricos foram publicados durante a vida de Camões: a ode Aquele único exemplo, nos Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia (1563), de Garcia da Orta; a elegia Depois que Magalhães teve tecida e o soneto Vós, ninfas da gangética espessura, nas páginas iniciais do livro História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil (1576), de Pero de Magalhães Gândavo. Assim, praticamente toda a obra lírica, a obra dramática e as cartas são de publicação póstuma. Por isso surgiram sérios problemas quanto à autenticidade de muitos textos, sobretudo da obra lírica. Houve edições que publicaram vários textos que na verdade não eram de Camões. Por outro lado, houve edições que, por excesso de cuidados, deixaram de publicar muitos textos que mais tarde se pôde comprovar serem de Camões. Atualmente, de acordo com os critérios de crítica textual e graças ao trabalho de vários estudiosos, entre os quais Wilhelm Stoyck, Agostinho de Campos, José Maria Rodrigues, Afonso Lopes Vieira, Hernâni Cidade, Costa Pimpão, Emanuel Pereira Filho e Jorge de Sena, pode-se atribuir a Camões, com uma margem bem grande de certeza, as seguintes obras: 211 sonetos, 15 canções, três sextinas, 13 odes, 11 elegias, cinco oitavas, nove éclogas, 142 redondilhas, os três autos e as quatro cartas, além de Os Lusíadas. No caso de Os Lusíadas, houve especificamente problemas derivados da descuidada revisão de suas primeiras edições. Por isso surgiram várias edições extremamente incorretas, o que veio sendo solucionado por diversos estudiosos que se dedicaram ao estabelecimento do texto autêntico.

Os Lusíadas são um poema épico escrito em oitavas-rimas de versos decassílabos heróicos. Tem dez cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos. O motivo básico do poema é a expedição de Vasco da Gama em busca de um caminho marítimo para as Índias. No entanto, cerca de 1/3 do poema é dedicado aos grandes feitos dos reis e dos homens importantes do reino de Portugal. Assim, Os Lusíadas constituem, na verdade, a narrativa épica da história de Portugal, desde as origens até a época em que Camões viveu. O termo lusíada é sinônimo de português e provém de Luso, o fundador mitológico da Lusitânia, isto é, Portugal. O poema se desenvolve em duas linhas que às vezes se confundem: os fatos históricos e as invenções mitológicas. Há ainda uma terceira linha representada pelas interferências do poeta: comentários sobre o papel da poesia na história, sobre a política européia e sobre o poder do dinheiro.

Quando tem início a ação do poema, os navios portugueses já se encontram no oceano Índico, isto é, no meio da viagem. Enquanto isso, os deuses se reúnem no Olimpo para tomar decisões a respeito dos navegadores. Baco é contrário aos portugueses, mas Júpiter está a favor deles, passando a contar também com o apoio de Vênus e Marte. Os navios chegam a Moçambique e Vasco da Gama desce à terra. Baco arma uma cilada, mas não é bem-sucedido. A viagem prossegue e os navios se aproximam de Mombaça. No entanto, Vênus faz com que se afastem, pois Baco preparara outra cilada. Vênus então pede a Júpiter maior proteção para os portugueses. A seguir, os navegadores chegam a Melinde, onde são muito bem recebidos. Vasco da Gama passa a contar a história de Portugal para o rei de Melinde. Primeiramente descreve a Europa e depois dá início a seu relato. Fala do Luso, fundador da Lusitânia, e de Dom Henrique de Borgonha, para então narrar uma série de episódios: o de Egas Moniz, a morte de Inês de Castro, a batalha de Aljubarrota, a tomada de Ceuta, o sonho profético de Dom Manuel, os preparativos para a viagem, a fala do velho do Restelo e a partida dos navegadores. Prossegue o relato contando a primeira parte da viagem, cujos pontos mais importantes são os seguintes: o fogo de Santelmo, a tempestade, o gigante Adamastor, a chegada à Melinde. Após esse relato, os navegadores continuam a viagem, enfrentando nova tempestade provocada por Baco e Éolo. Vênus, no entanto, envia ninfas para acalmar a tempestade. Finalmente os portugueses chegam a seu destino, isto é, Calicute, na Índia. De regresso a Portugal, passam pela ilha dos Amores, que é colocada em seu caminho por Vênus e onde são recebidos por ninfas, que lhes oferecem um banquete como recompensa pelos atos heróicos. Nesse episódio, é mostrado a Vasco da Gama o futuro glorioso de Portugal.

Embora utilizando amplamente elementos mitológicos, Os Lusíadas são basicamente um poema que celebra a inspiração cristã das descobertas marítimas. No entanto, está presente na epopéia camoniana a consciência dos males e sacrifícios que poderiam resultar dessas descobertas. Camões não deixou de estabelecer uma distinção entre o valor em si dos feitos portugueses e o valor ético discutível do objetivo de seus empreendimentos. Desse modo, verifica-se que o poema conjuga claramente o humanismo e o expansionismo que marcaram o Renascimento português.

Os Lusíadas, tanto por sua linguagem como pela fusão de elementos clássicos e modernos, é o maior monumento literário da língua portuguesa. Já em 1580, pouco antes da morte de Camões, o poema foi traduzido para o espanhol. No correr dos séculos, surgiram sucessivas traduções para o italiano, inglês, francês, alemão, russo, polonês, dinamarquês, sueco, húngaro e romeno, o que atesta sua repercussão internacional.

Rimas é o título que em todas as edições se tem dado ao conjunto da obra lírica de Camões — a exemplo da obra do mesmo gênero de Petrarca. As Rimas foram publicadas pela primeira vez em 1595 por Fernão Rodrigues Lopo Soropita. São constituídas por composições de vários tipos, que podem ser agrupadas de acordo com três correntes poéticas predominantes em Portugal no séc. XVI: a peninsular (cantigas, pastoris, glosas, vilancetes), a italiana (sonetos, sextinas, canções, composições em oitava-rima) e a greco-latina (éclogas e elegias).

Em seus principais poemas líricos, Camões realizou uma profunda meditação sobre o mundo do "eu", da mulher, do amor, da vida e de Deus. Nesses poemas fica clara a tensão entre os dois pólos do espírito de Camões: a tendência a idealizar o amor, isto é, a tratá-lo como coisa mental, e a tendência a também percebê-lo como algo sensível. De modo geral, a lírica camoniana desenvolve um percurso que vai do particular e do sensível à intelectualização e generalização das emoções terrestres. Às Rimas pertence a que é considerada a mais alta meditação lírica de Camões, a redondilha Sôbolos rios que vão. Contudo, os poemas mais famosos são os sonetos, entre os quais podem ser citados os seguintes: Busque Amor novas artes, novo engenho; Amor é um fogo que arde sem se ver; Transforma-se o amador na cousa amada; Sete anos de pastor Jacó servia e Alma minha gentil, que te partiste. Dentro de seu gênero, as Rimas ocupam, sem dúvida alguma, posição à altura de Os Lusíadas.

Texto: malhanga.com

1 comentário:

  1. Caro amigo.
    Desculpa-me a intromissão. Mas acho que deverias colocar um apenso sobre o nascimento do Poeta. Os Flavienses, especialmente os de Nante não perdoam se pelo menos uma dúvida não se colocar sobre o seu nascimento neste lugar. Há uns anos ainda existia uma casita, habitada por uma família, dizia-se que aparentada com o Luíz.
    Isto sobre o nascimento, já o li algures, mas na altura foi-me dito e mostrada a casa por gente da terra que tem muito prestígio cultural.
    Um abraço de amizade

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