Afonso Lopes Vieira em criança
Afonso Lopes Vieira (n. Leiria, 1878 - m. Lisboa, 1946), poeta português.
Concluido o Curso de Direito na Universidade de Coimbra (1894-1900), deslocou-se para Lisboa, na qualidade de redactor da Câmara dos Deputados (1900-1916).
Após esta data, passa a dedicar-se exclusivamente à sua actividade literária de que precocemente dera provas na fase estudantil ao redigir alguns jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante . Com a publicação do livro Para Quê? (1897) marca a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária — Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as “Cenas Infantis” de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) - encerrando a sua actividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927). A obra poética culmina com o inovador e epigonal livro Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
O carácter activo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua acção não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação à causa infantil, iniciada com Animais Nossos Amigos (1911), um filme infantil O Afilhado de Santo António (1928), entre outros. Por fim, assinale-se a sua demarcação face à ideologia salazarista expressa no texto Éclogas de Agora (1935).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética.
Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[...] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluído evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos...» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Actualmente a Biblioteca Municipal em Leiria tem o seu nome. A sua casa de São Pedro de Moel foi transformada em Museu. Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, um dos primeiros representantes do Neogarretismo e esteve ligado à corrente conhecida como Renascença Portuguesa.
Obra
- Para quê? (1898)
- Naufrago-versos lusitanos (1899)
- Auto da Sebenta (1900)
- Elegia da Cabra (1900)
- Meu Adeus (1900)
- Ar Livre (1901)
- O Poeta Saudade (1903)
- Marques - História de um Peregrino (1904)
- Poesias Escolhidas (1905)
- O Encoberto (1905)
- O Pão e as Rosas (1910)
- Gil Vicente-Monólogo do Vaqueiro (1910)
- O Povo e os Poetas Portugueses (1911)
- Rosas Bravas (1911)
- Auto da Barca do Inferno (adaptação) (1911)
- Os Animais Nossos Amigos (1911)
- Canções do Vento e do Sol (1912)
- Bartolomeu Marinheiro (1912)
- Canto Infantil (1913)
- O Soneto dos Tûmulos (1913)
- Inês de Castro na Poesia e na Lenda (1914)
- A Campanha Vicentina (1914)
- A Poesia dos Painéis de S.Vicente (1915)
- Poesias sobre as Cenas de Schumann (1916)
- Autos de Gil Vicente (1917)
- Canções de Saudade e de Amor (1917)
- Ilhas de Bruma (1918)
- Cancioneiro de Coimbra (1920)
- Crisfal (1920)
- Cantos Portugueses (1922)
- Em Demanda do Graal (l922)
- País Lilás, Desterro Azul (1922)
- O Romance de Amadis (1923)
- Da Reintegração dos Primitivos Portugueses (1924)
- Diana (1925)
- Ao Soldado Desconhecido (1925)
- Os Versos de Afonso Lopes Vieira (1928)
- Os Lusíadas (1929)
- O Poema do Cid (tradução) (1930)
- O livro do Amor de João de Deus (1930)
- Fátima (1931)
- Poema da Oratória de Rui Coelho (1931)
- Animais Nossos Amigos (1932)
- Santo António (1932)
- Lírica de Camões (1932)
- Relatório e Contas da Minha Viagem a Angola (1935)
- Églogas de Agora (livro proibido até 25/4/1974) (1937)
- Ao Povo de Lisboa (1938)
- O Conto de Amadis de Portugal (1940)
- Poesias de Francisco Rodrigues Lobo (1940)
- A Paixão de Pedro o Cru (1940)
- Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940)
- O Carácter de Camões (1941)
- Cartas de Soror Mariana (tradução) (1942)
- Nova Demanda do Graal (1947)
- Branca Flor e Frei Malandro (1947
Afonso Lopes Vieira
Choram ainda a tua morte escura
Aquelas que chorando a memoraram;
As lágrimas choradas não secaram
Nos saudosos campos da ternura.
Santa entre as santas pela má ventura,
Rainha, mais que todas que reinaram;
Amada, os teus amores não passaram
E és sempre bela e viva e loira e pura.
O Linda, sonha aí, posta em sossêgo
No teu muymento de alva pedra fina,
Como outrora na Fonte do Mondego.
Dorme, sombra de graça e de saudade,
Colo de Garça, amor, moça menina,
Bem-amada por toda a eternidade !
(In Cancioneiro de Coimbra)
Link aqui para: Mais Poemas
Sem comentários:
Enviar um comentário