António Manuel Pires Cabral nasceu em Chacim, antiga vila do concelho de Macedo de Cavaleiros, em 13 de Agosto de 1941. Os seus Pais, Manuel do Nascimento Pires Cabral, farmacêutico, e D. Maria de Jesus Terra Cabral, dona de casa, eram naturais, respectivamente, de Alvites, Mirandela, e de Peredo, Macedo de Cavaleiros. À época seu Pai explorava uma farmácia em Chacim.
Tem dois irmãos mais velhos: Manuel Joaquim Terra Pires Cabral, médico nefrologista em Coimbra, e Rui Alberto Terra Pires Cabral, engenheiro técnico agrário em Macedo de Cavaleiros.
Com pouco mais de um ano de idade veio para Macedo de Cavaleiros, onde seu pai adquiriu entretanto uma farmácia. Aí viveu a sua infância e adolescência, e, quando os estudos em Coimbra e a profissão de professor o afastaram da “sua” vila, aí voltou sempre em tempo de férias e continua a ir, quando tem oportunidade.
Fez em Macedo de Cavaleiros a instrução primária e o curso geral dos liceus, este no já desaparecido Externato Trindade Coelho. O curso complementar dos liceus foi já feito em Coimbra, em cuja Faculdade de Letras se licenciou em Filologia Germânica, em 1965. Nesse mesmo ano — ano da morte de seu Pai — iniciou a sua carreira de professor no próprio externato de Macedo de Cavaleiros que frequentara como aluno. Passou em seguida (1968) para a Escola Industrial e Comercial de Bragança e depois (1970) para a Escola Comercial Oliveira Martins, no Porto, onde fez o estágio pedagógico e exame de estado. Segue-se uma estadia de três anos na Escola Industrial de Torre de Moncorvo, na posição de director, que acumulava com a de director da Escola Preparatória Visconde de Vila Maior, da mesma localidade. Entretanto concorrera a professor efectivo do ensino técnico sendo colocado na Escola Comercial e Industrial de Vila Real, mantendo-se contudo em Torre de Moncorvo em regime de comissão de serviço.
Sobreveio entretanto a Revolução do 25 de Abril de 1974, que alteraria drasticamente o modelo de gestão das escolas, substituindo os directores por comissões directivas. Por esse motivo cessou as suas funções em Moncorvo e veio ocupar o seu lugar no quadro da Escola Comercial e Industrial de Vila Real. Após leccionar dois anos na Escola do Magistério Primário de Vila Real, passou a integrar o quadro da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, até à sua passagem à reforma em 2002.
Paralelamente com a carreira pedagógica, a partir de 1977 passou a dar colaboração ao pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Real, colaboração essa que se mantêm até ao presente.
Data de 1974 a publicação do seu primeiro livro, uma colectânea de poemas com o título Algures a Nordeste. De então para cá, tem publicado a uma média superior a um livro por ano. Recebeu, para além de outras distinções literárias menores, o Prémio Círculo de Leitores 1983 (com o romance Sancirilo) e o Prémio D. Dinis 2005 (com os livros de poemas Douro: Pizzicato e chula e Que comboio é este). Como distinções fora do âmbito da literatura, em 1982 recebeu da Região de Turismo da Serra do Marão a medalha de Protecção do Património do Concelho de Vila Real. A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros atribuiu-lhe a Medalha de Prata do Concelho em 1984. A Câmara Municipal de Vila Real concedeu-lhe a Medalha de Prata de Mérito Municipal em 1989 e a Medalha de Ouro da Cidade em 2006. Recebeu também a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura em 2003.
A obra de A. M. Pires Cabral é muito vasta (cerca de 40 títulos, sem contar as sete selectas escolares que co-organizou com Hirondino Fernandes). Nela é possível encontrar poesia, romances, livros de contos, peças de teatro, textos de viagens, crónicas e antologias temáticas. Uma boa percentagem destes livros é dedicada à realidade campesina trasmontana, já que o autor se assume como um homem de fundas raízes rurais e, segundo tem referido com frequência, procura pagar com a moeda da escrita a dívida que tem para com as terras e as gentes trasmontanas.
Dois livros de contos merecem especial atenção deste ponto de vista: são eles O diabo veio ao enterro (1985; 2.ª edição aumentada e reformulada, 1993) e Três histórias trasmontanas (1998). O primeiro deles é uma obra compósita, cujos textos reúnem em si características de conto, de crónica e de recolha da tradição oral trasmontana. Segundo Maria Alzira Seixo, o livro “renova a concepção do conto regionalista, pela aliança fecunda que estabelece entre tradição e imaginação”. Luís de Miranda Rocha acrescenta que “tal só se consegue com extremo cuidado e grande exigência de qualidade estética e rigor processual”. Por sua vez, Fernando Assis Pacheco escreve sobre essa obra: “Um livro gostoso como poucos. Se o autor estivesse pelos ajustes, fazia o favor contava-nos mais contas num segundo volume. Agradecidos.”
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A primeira fase do Ciclo “Os Contistas da Ruralidade Trasmontana e Alto-Duriense” termina com um dos escritores em que é mais visível a relação com Vila Real, situação que não é de estranhar, uma vez que muito cedo deu sinais de que, com a sua instalação nesta cidade, esta ocuparia um lugar na sua vida afectiva. Da sua vontade de adaptação a Vila Real, diz no poema “Imigração” de Trirreme (1978): “Pátria nova! Golpear-te-ei (pensava) / com furioso amor, minha enxada.”
A. M. Pires Cabral vive em Vila Real desde Novembro de 1974, altura em que veio assumir o lugar no quadro da Escola Comercial e Industrial de que tomara posse em 1971. A opção por Vila Real foi influenciada pelo chefe de secretaria da escola que dirigiu em Torre de Moncorvo, o Sr. João Mário Ferreira Leandro, vila-realense, que lhe chamou a atenção para as potencialidade que se adivinhavam para Vila Real com a próxima criação do ensino universitário.
Uma vez instalado em Vila Real, leccionou em três estabelecimentos de ensino (Escola Comercial e Industrial de Vila Real, Escola do Magistério Primário e Escola Secundária Camilo Castelo Branco) e dirigiu a Casa de Cultura da Juventude. Aqui fez amigos e consolidou a relação afectiva com a cidade. Leu tudo o que tinha à sua volta num esforço para compreender a identidade cultural vila-realense e, consciente de que poderia também ele ser um agente de desenvolvimento cultural local, aceitou, faz agora exactamente 30 anos, assessorar o pelouro da cultura da Autarquia, onde realizou um vasto conjunto de actividades, de que se destacam o acompanhamento do Projecto 5.2 do Conselho da Europa (“Políticas Culturais nas Cidades”), entre 1979 e 1984, as Jornadas Camilianas, a Revista Tellus, etc. E, mais importante do que tudo isso, aqui escreveu a totalidade da sua obra (com excepção de Algures a Nordeste) e dedicou a Vila Real um conjunto de obras de temática vila-realense, de que são exemplo Boleto em Constantim (poesia, 1981), Vila Real — Presença de Camilo (monografia, 1983), Sabei por onde a luz (poesia, 1983), Vila Real — Itinerário mínimo (monografia, 1988), Vila Real — Charlas com apostila (crónicas, 1995) e Vila Real — Um olhar muito de dentro (monografia, 2001).
Fonte: Grémio Literário Vila Real
Algumas da suas Obras:
O Diabo veio ao enterro
Arado - 2009
Páginas de Caça Na Literatura de Trás-os-Montes - 2009
As têmporas da cinza - 2008
Antes Que o Rio Seque - 2006
As têmporas da cinza - 2008
Trocas e Baldrocas ou com a Natureza não se brinca - 2008
A Loba e o Rouxinol - 2004
O Cónego - 2007
O Livro dos Lugares e outros Poemas - 1999
Douro: Pizzicato e Chula - 2004
Raquel e o Guerreiro - 1995
Crónica da Casa Ardida - 1992
Sancirilo – 1996
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POEMA
Recado aos corvos
Levai tudo:
o brilho fácil das pratas,
o acre toque das sedas.
Deixai só a incomensurável
memória das labaredas
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